sexta-feira, novembro 18, 2005

Menino/Homem

Havia um menino/homem plebeu, que pela primeira vez entrou no castelo do reino.
Entrou convidado, sem dúvida, empregado da corte real.

Em pouco tempo se enturmou com todos. Até com o sisudo rei, que de quando em vez lhe dirigia cumprimentos sinceros, respeitando o trabalho simples, porém honesto, que o menino/homem realizava.

Mas foi com os menos nobres que ele mais se identificou. Nobres sim, porém mais próximos do mundo no qual o plebeu menino/homem passara toda a vida até ali.

E por muitas semanas, feliz e contente, o rapaz realizou seu trabalho durante o dia. Quando a noite caía, o jovem se despedia dos seus nobres amigos e voltava para o vilarejo, sozinho.

Então veio a guerra.
Um guerra dura, como quase todas, cheia de razões nobres e nobres heróis caídos.

Nenhum plebeu lutou nessa guerra, apenas os nobres cavaleiros.
Contagiado pelo espírito da bravura, o menino/homem foi ao campo de batalha, disfarçado de cavaleiro, vestindo uma armadura quase pesada demais para seu corpo franzino e carregando uma espada que nem Deus sabe como ele a empunhava.

Por mais sorte que juízo, o menino/homem retornou todas as vezes. Sempre com dores horíveis pelo esforço, mas, no máximo, com alguns pequenos arranhões.

Ainda hoje a guerra perdura.
Mas a amizade com os nobres permanece.

Mais discreta, é verdade, nesses tempos de ingrata batalha. O rei ainda acena para ele, assim como todos os outros nobres menores, que voltam da luta cheios de histórias fantásticas para contar ao rapaz; completamente alheios das histórias que o jovem também guarda em si, enquanto finge fazer apenas o trabalho simples para o qual foi contratado.

E o menino/homem ainda empunha uma enorme espada no campo de batalha, sem que ninguém saiba da bravura ou da coragem que o rapaz nem sabe que tem.

Mal sabe ele que apesar de não ser nobre, ele há muito já não é um plebeu.
E apesar de não ser um homem, ele há muito também já não é um menino.