quarta-feira, junho 29, 2005

Anamnese

Engraçado como o cérebro funciona (ou não, como no meu caso).
As memórias tão lá, quietinhas, na delas. Daí acontece algo na tua vida que de repente ignora a plaquinha de não-perturbe colocada na porta do seu depósito de lembranças e toda uma história vergonhosa do passado jorra diante dos seus olhos.
O sangue flui para a face e você finalmente se lembra de algo horrível que aconteceu.
Pior; você lembra inclusive, porque foi que esqueceu.
Alguns posts atrás eu havia dito que nunca ganhei nada sozinho (o que é verdade). Mas houve algo que eu quase ganhei, mais ou menos sozinho.
Então vamos à historinha:
2001 - NDesign - Recife

Houve uma vez uma Repentina, que é o nome que se dá às gincanas que acontecem nos congressos de Design.
Nessa repentina, que foi em Olinda, as equipes tinham que subir e descer as ladeiras da cidade (parecia mais subir que descer) atrás de papel, cola, tesoura, etc, pra montar um personagem de circo, previamente sorteado.
Minha equipe tirou o trapezista.
Como, por azar, eu não estava em outro lugar, decidiu-se que eu seria o dito cujo.
Ingenuamente aceitei a incumbência e fui lá, vestido de trapezista de papel crepom, caminhando ingênuo para meu derradeiro destino, desconhecido até então.
1500 designers (e pseudos) esperavam para me ver subir no coreto de Olinda e numa performática apresentação, arrancar ululantes palmas e ser ovacionado pela minha esfuziante apresentação de trapezista.
Apesar do sucesso de público, eu fui honestamente superado pelo atirador de facas, que se apresentou de forma superior (mérito de meu amigo Julio, que merece todos os créditos pela performance) e me roubou o 1º lugar.
Com uma ressalva: Eles se apresentaram em equipe, enquanto eu dei a minha cara (de pau) à tapa sozinho.
Recebi um merecido 2º lugar na classificação geral, mas me considero um vencedor na categoria solo.
Fomos tão superiores às outras 20 e tantas equipes, que ninguém nem lembra que foi o domador de leões que tirou 3º lugar (eu acho).
Tudo isso só me voltou à memória depois de lembrar que eu nunca tinha ganhado nada numa competição. Mas acabei de me lembrar também que dei sorte de não levar o prêmio principal:
30 pau-do-índio
(cachaça à base de rapadura, que vem em garrafinhas plásticas e é muito muito ruim demais demais).
Enfiadas no armário daqui de casa, estão as últimas das 15 que eu ganhei sozinho, como recompensa da maior vergonha que eu já passei sóbrio na vida.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Não conhecia essas pagação de mico sua. Essa viagem rendeu!
Só estou com medo de uma coisa, o que vou descobrir daqui para frente?

05/07/2005, 22:29  

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